Ao ver a Terra ficando cada vez
mais distante, o primeiro sentimento foi o de fracasso. A humanidade fracassou
em sua passagem pela Terra. Agora estamos aqui, tendo que praticamente fugir
para outro planeta. Mas esse sentimento de fracasso era substituído pelo orgulho,
ainda que tímido: afinal, depois da guerra que dizimou quase toda a humanidade há algumas
décadas atrás, tornando praticamente inabitável boa parte do planeta, fomos
capazes de unir forças para construir uma nave e zarpar em busca de outra
morada para o ser humano, eis que a Terra está praticamente estéril.
Sentado aqui na nave sinto um vazio,
para não dizer desespero, diante do fato de que teremos que recomeçar num lugar
distante, longe do nosso planeta querido, e construir uma nova civilização. Os
desafios serão enormes! Às vezes penso em desistir, não pela longa viagem e seus
riscos, pois já fizemos outras viagens preparatórias antes, mas pelo fato ter
perdido um pouco de apreço pelos meus semelhantes. Não sei se depois de tanto
esforço, de unir pessoas de diferentes países, a nova civilização não cometerá os
mesmos erros da que floresceu por milênios no planeta Terra.
Mirando a Terra ao longe, uma diminuta
esfera largada no espaço, vejo quão absurdas foram as razões do nosso fracasso.
Fronteiras fictícias, raças inexistentes, religiões conflitantes, tudo não tem
o menor sentido diante desta indivisa bola que vejo agora em minha frente.
Imerso na mais profunda
nostalgia, sou surpreendido pelo meu pequeno filho, que em sua inocência aguarda
com ansiedade a chegada na nossa nova “casa”:
- Papai, olha: a Terra não é azul! É
cinza!
Cinzas sobre os meus pensamentos!
Cinzas sobre os erros do passado!